O retrato de Inês de Castro nasce entre a História e a imaginação. Da série que a literatura nos tem brindado, destaco o quadro composto por Agustina. Aliando a investigação à criatividade, nasce um retrato muito original de Inês na sua época.
"Inês criava-se em Albuquerque e crescia em graças extraordinárias. Sentada na sua cadeira de pentear, pintada de escarlate que não tinha escudo de armas, mas só as suas iniciais,era muito agradável de ver se alguém pudesse descortiná-la atrás de uma espécie de tenda de veludo vermelho.Ela e a criada estavam ao abrigo dos olhares indiscretos. Podiam dourar os cabelos com água de cebolas ou frisá-los até parecerem um molho de plumas; ou então, embrulhada numa capa de petit-gris, ouvia contar histórias de heróis,o que a fazia chorar, tomada de súbita melancoliar, como um aviso súbito, um sobressalto. Era educada para um destino alto, ensinada a andar com leves passos saltitados, a jogar xadrez, a tocar alaúde, a montar a cavalo. Nas caçadas, segurava um falcão na mão enluvada com infinita elegância, enquanto via abrir o ventre das presas para dar aos cães pedaços de pão embebidos no sangue."
Agustina Bessa-Luis, Adivinhas de Pedro e Inês, pg. 63
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